Devo ser a pessoa mais estranha do universo universal, e há coisas que acredito que só eu é que faço!
Enquanto coordenadora de Recursos Humanos contratei um rapaz nacional, mas que tinha vindo recentemente de um país vizinho por não ter tido meios para continuar a estudar. Regressava ao seu país para trabalhar, ganhar dinheiro e poder prosseguir assim com a Universidade.
O Si. era único, falava dois idiomas num país onde mal se fala a própria língua, o Si. era responsável, ambicioso, educado, tinha sempre um sorriso, o Si. era melhor que qualquer outro dos funcionários com que eu trabalhava. O Si. trouxe música para os nossos gabinetes e alegrou os meus dias.
O Si. foi chamado a ajudar na direcção e foi, e trabalhou bem, fez tudo em tempo recorde.
Mas o Si. tinha mais mundo e isso incomoda a quem nada tem, a quem não é nada. Na manhã seguinte à sua "promoção" fui chamada ao gabinete do Director com ordem para despedir o Si.
Tentei tudo, falei, falei, expliquei porque não o podíamos despedir, mas a ordem era rotunda. O Si. tinha atendido o telefone duas vezes durante o dia, telefonemas de carácter pessoal. O Si. era um insolente, não merecia continuar e eu tive indicação de "fazer contas e rua".
Chamei-o à uma sala, falei com ele e chorei, chorei, chorei e pedi desculpa por não ter podido fazer mais nada por aquele rapaz de 21 anos. Primeira vez que não me consegui conter ao despedir alguém. Até ali só tinha despedido pessoal da segurança que não sabia segurar nada, mas o meu Si. era um achado numa terram infértil de RH.
Fui para casa e chorei mais a pensar naquela pobre alma sem meios, sem estudos e sem trabalho. Sozinho em casa duns tios e longe do país de acolhimento que amou e teve de abandonar.
O Si. Ouvia Bruno Mars e Britney Spears no seu mp3, no mp3 que punha a tocar para todos nós, e eu desde esse dia que não consigo ouvir Bruno Mars sem ficar com os olhos cheios de lágrimas a pensar no Si. e no que será feito da vida dele.
O dia em que o tive de acompanhar à saída, a prepotência de quem tudo se acha levou-me a ouvir "M. não tem nada que chorar, é rua, é rua, e se se comove tal vez é porque não sirva para estar onde está" Pois...tal vez não sirva, poque eu amo o ser humano, eu geria os recursos humanos, não os desumanos, aí está a diferença. Tal vez não servisse para ser despiedada, mas sei que fiz a diferença por onde passei por ser diferente de quem encontrei instalado.